Não poderia escrever este texto em melhor altura. Numa viagem de avião para visitar os que vivem desde sempre no meu coração.
E porquê este título?
Voar está diretamente associado a tudo que se relaciona com crianças. Desde que nascem elas gostam de descobrir, experimentar e saborear uma variedade imensa de sensações. Grande parte das vezes não “voam”, porque não as deixam.
Nós adultos somos muito limitadores neste sentido. Deixamos que os nossos medos e inseguranças limitem o voo das nossas crianças. Com isto não quero dizer que devemos deixar que experimentem tudo o que querem, mas também não devemos limitar as experiências adequadas para cada faixa etária.
Recordo-me que quando o meu filho era pequeno tinha muito medo que ele ficasse doente. Era tão obcecada com esta situação que não o tirava de casa para não apanhar sol nem frio. Foi algo completamente louco da minha parte e hoje, tenho plena consciência disso e de muitas outras situações. Se voltasse a ser mãe nada disso voltaria a acontecer, mas naquela altura foi o que soube fazer e achei bem.
Basicamente, privei o meu filho de contatar com grandes diferenças de temperaturas durante alguns meses. Aos onze meses tive que o colocar na creche e como seria de esperar apanhou todas as viroses e doenças típicas de crianças que andam na rua e convivem com crianças. Aí, comecei a despertar para os erros que tinha cometido e para o quanto tinha “limitado” o voo do meu filho.
Como esta tive outras situações que sei que “limitei” o seu voo.
Hoje em dia, faço um grande esforço para não cometer o mesmo erro, mesmo que para isso tenha que passar noites sem dormir. Neste momento, ele tem onze anos (o tempo voa) e é uma criança/pré-adolescente bastante receoso de experimentar determinadas coisas. Por exemplo, ele adora trepar muros e faz isso com muita frequência, mas se tem algum descuido e caí, fica com receio de me contar. Quem cultivou estes medos nele? Eu mesma, a sua mãe.
Atualmente, sou muito ciente disso e tento trabalhar com ele o oposto, mas tudo leva o seu tempo. Ele tem melhorado imenso e isso devesse ao facto de eu ter mudado a minha forma de lidar com determinadas situações. O facto de o deixar “voar” mais alto tem sido muito positivo para ele e para mim.
Com as outras crianças atuo da mesma forma e tento partilhar com os pais aquilo que já fui para que tenham uma maior consciência das “limitações” que de forma involuntária criam nos seus rebentos.
Claro que cada situação é uma situação. Por trás dos nossos medos existem sempre diferentes argumentos e vidas, mas na realidade as coisas acontecem quando nós menos esperamos.
Devemos ser cuidadosos, mas nunca limitar o “voo” das nossas crianças. Todos nós já erramos enquanto crianças e continuamos a errar em estado adulto. Entrando pelo mundo dos provérbios: “quem escorrega também cai”; “ao menino e ao borracho, deus põe-lhe a mão por baixo”.
Voar é do melhor que há.

Tânia Abreu – Professora, Coaching Educativo e Parental