Aconchego de avós
Acabamos de passar mais uma época caraterizada pela união familiar, ou pelo menos para alguns é o que acontece. Para os que não foi possível, certamente terão outras épocas para o fazer. Afinal, Natal é quando o homem quer.
Reencontros entre pais e filhos, avós e netos, primos, tios, amigos…
Amigos?
Sim, amigos são a família que a vida nos ofereceu e que muitas vezes nos acompanham muito mais que alguns familiares nos desafios da vida.
Mas, o que vos quero falar hoje é o reencontro entre avós e netos. Se é difícil estar longe de um filho de um neto parece-me muito mais. Como todos sabemos ser avô ou avó é ser pai ou mãe duas vezes.
Quem tiver dúvidas basta questionar os avós e eles terão a resposta certa para isso.
Como sabem nem sempre nos é possível estar próximo da família o que faz com que os nossos filhos estejam afastados dos avós, mas a verdade é que a relação entre eles é algo extranatural. Eu diria algo que transcende o verdadeiro significado da palavra AMOR.
Aos netos tudo é permitido, principalmente aquilo que aos filhos nunca foi.
Ouvimos dizer muitas vezes que os pais são para EDUCAR e os avós para ESTRAGAR, e acaba por ter a sua verdade. Ser avô ou avó implica ter mais tempo do que se tinha para os filhos, implica ser mais permissivo pelo avanço da idade e pela paciência que se foi adquirindo com os ensinamentos da vida.
Recordo-me da ligação super especial que sempre tive com o meu avô paterno e a minha avó materna. O meu avô sempre foi um ser muito paciente e que me levava para todo o lado consigo. Éramos muito cúmplices um com o outro. Esta cumplicidade só se desenvolveu, porque ele sempre foi muito presente. A minha avó materna era a senhora da boa disposição e de sempre SORRIR, mesmo que estivesse a sofrer. Aprendi com ela a alma da FELICIDADE.
Ser PRESENTE é o maior segredo nas relações humanas.
O meu avô paterno e a minha avó materna nunca foram de me dar bens materiais, mas ofereceram-me algo muito mais valioso: PRESENÇA e ensinamentos para a vida, capacidade de sacrifício, valorização do essencial, partilha, apreciação e valorização da natureza, gosto pelos animais , união, compaixão e acima de tudo o valor da FAMÍLIA.
Hoje em dia as vidas são diferentes, mas para se ser PRESENTE basta querer. Temos a tecnologia que é muito benéfica quando existem distâncias. Se elas existem devemos aproveitar as suas possibilidades de forma positiva. Quando queremos o longe faz-se perto, tão simples como isso.
Eu e o meu filho vivemos longe da família, mas não é por isso que somos distantes. Falamos e vemos com regularidade os meus pais e esta PRESENÇA faz com que a ligação deles com o neto se mantenha forte e inquebrável. Costumo dizer em tom de brincadeira: eu posso “desaparecer”, mas o neto tem que ficar e consigo compreender esta necessidade por parte dos meus pais. Em fases mais duras da minha vida foram eles que estiveram lá a dar apoio ao neto e à filha o que levou o neto a tornar-se em mais um “filho”. Como costumo dizer: o meu filho foi o filho que o meu pai não teve. Avô e neto amam-se incondicionalmente, tal como avó e neto também. A avó cuida e o avô faz tudo que o netinho quer. É tão bom este sentimento de bem querer.
Há uns anos atrás achava esta cumplicidade um pouco exagerada, mas hoje compreendo-a perfeitamente. A distância ensina-nos a ver com outros olhos as coisas boas da vida.
Um dia li uma carta de uma avó para a sua própria filha que andou a circular pela internet. Não sei a veracidade da mesma, mas amei a sinceridade e a forma direta como abordou os assuntos. Esta carta era de resposta ao recado que a filha lhe tinha deixado para o período de férias que os netos ficariam com ela. Basicamente, tinha orientações para tudo: o que comer, a que horas dormir, questões de higiene, o que podiam ver na televisão… A resposta foi extraordinária: Querida filha. Como bem sabes esta é a minha casa. As minhas regras são estas: enumerou algumas regras da sua casa de resposta às orientações da filha. Como conclusão, disse: espero que me tenhas compreendido. Caso não te agrade podes vir buscar os teus filhos.
Isto não passou nada mais, nada menos do que um alerta. A verdade é que os nossos pais já criaram filhos e souberam fazê-lo. Porque não haveriam de saber cuidar dos netos? Infelizmente, muitos filhos querem ajuda, mas tem que ser ao jeito deles. Em vez de agradecerem o facto de terem quem os ajude e não ter que pagar para que cuidem dos filhos ainda vão exigir! Parece-me um pouco/bastante absurdo.
Para aqueles que tem a sorte de ainda cá ter os avós dos seus filhos deixo uma sugestão: façam por deixar que a ligação deles se mantenha, porque um dia tudo vai ficar diferente. E, não se esqueçam de agradecer.
Para os AVÓS, aqueles seres mais que especiais. Tenham um bocadinho de paciência com os vossos filhos, porque para os netos está tudo certo.
Avós ESTRAGAM (q.b.), pais EDUCAM.
E tudo isto faz parte da vida. Amor gera Amor.
Aí saudades dos meus AVÓS.
Sejam felizes.

Tânia Abreu – Professora, Coaching Educativo e Parental