Será que a PALMADA é uma estratégia positiva?
Já lá vai o tempo em que a palmada era utilizada para educar. Na realidade não educava nada, mas as pessoas achavam que sim.
Os adultos sentiam-se poderosos quando batiam nos filhos. Achavam que os filhos eram propriedade, e não seres com direitos.
Com a evolução dos tempos e o aparecimento da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS, os adultos começaram a perceber que as crianças, apesar de não serem seres independentes, também tem direitos e um deles é ser educados sem violência, quer física ou verbal.
Eu, fui criada numa época em que a palmada era utilizada com muita frequência. Não sei porquê, os meus pais nunca a utilizaram, e não foi por isso que deixei de ter educação e respeito. A minha mãe sempre foi munida de uma paciência incrível. O meu pai, nem tanta. Dizia muitas vezes que ia bater, mas nunca o concretizava. Hoje, sou muito grata pela educação que me deram, sem violência física.
Porque os adultos exercem violência física sobre as crianças ou adolescentes?
Na minha perspetiva fazem-no, porque não tem a capacidade de desligar do mundo e das preocupações e transportam para as crianças a acumulação do seu dia a dia. Acabam por descarregar o seu stress naqueles que mais amam, algo que me parece extremamente ERRADO.
Como se consegue ter autocontrole suficiente para não dar PALMADA?
Não é fácil, mas tudo é uma questão de hábito. Basta nós mesmos querermos ser melhores a cada dia, e deixar na vida das nossas crianças boas marcas e não agressão física.
Para mim nunca foi difícil não dar PALMADA. Aliás, fui educada dessa maneira.
A PALMADA pode ter consequências muito graves na vida de uma criança ou adolescente, principalmente a nível cerebral. O efeito que ela causa é um “abanão” no cérebro. Grande parte das crianças que são “educadas” com base em PALMADA, tem tendência em estado adulto a submeter-se e expor-se a situações menos boas, como: consumo de bebidas alcoólicas, relações tóxicas, sujeitam-se a relações de agressividade quer física, quer psicológica, e muito provavelmente irão transpor isso para os seus descendentes.
Um dos últimos estudos, feito em HARVARD, diz-nos o seguinte:
As palmadas afetam o desenvolvimento do cérebro de uma criança de maneiras semelhantes a formas mais severas de violência. A pesquisa baseia-se em resultados de exames que mostram a intensificação da atividade de determinadas regiões do cérebro de crianças que levam palmadas em resposta a sinais de ameaça, o que ocorre com menor frequência nas crianças que nunca apanharam. Foram analisados dados de 147 crianças entre 10 e 11 anos que recebiam palmadas com frequência, mas não eram vítimas de violências mais severas. Nos testes realizados pelos pesquisadores, as crianças ficavam deitadas numa máquina de ressonância magnética enquanto assistiam a um vídeo com os rostos de atores com expressões “neutras” e “de medo”. Um scanner capturou a atividade cerebral da criança em resposta a cada tipo de rosto, e essas imagens foram analisadas para determinar se as expressões geravam padrões diferentes de atividade cerebral em crianças que recebiam palmadas em comparação com aquelas que não apanhavam.
Os pesquisadores descobriram que crianças que já levaram palmadas tem uma resposta neural maior ao ver as expressões de “medo” em várias regiões do córtex pré-frontal, área que responde a estímulos do ambiente, como uma ameaça, e afeta a tomada de decisões. Isso não ocorre nas crianças que nunca apanharam. A neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento (USP), explica que uma alteração na atividade do córtex pré-frontal pode desorganizar uma pessoa do ponto de vista neurológico. “Essa região que fica na parte interna da testa é responsável pelo autocontrole, atenção, concentração, crítica, memória… Uma mudança no funcionamento dessa área em crianças em fase de desenvolvimento e amadurecimento pode ter consequências duradouras”, diz.
De acordo com os autores do estudo, os castigos corporais na infância, em menor ou maior grau, estão associados a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, dificuldades comportamentais e abuso de substâncias. Os resultados estão de acordo com pesquisas semelhantes realizadas em crianças que sofreram violências graves, sugerindo que “em termos de como o cérebro de uma criança responde, a palmada não é tão diferente do abuso físico”, disse, em nota, a pesquisadora e uma das autoras do estudo Kate McLaughlin, do Departamento de Psicologia de Harvard. “É mais uma diferença de intensidade do que de categoria. É importante, porém, ressaltar que a palmada não afeta todas as crianças da mesma forma. Algumas são mais resilientes a adversidades. A conclusão é que a palmada aumenta o risco de problemas de desenvolvimento para a criança e, seguindo o princípio da precaução, pais e os legisladores devem trabalhar para tentar reduzir sua prevalência.”
Para a neuropsicóloga Deborah Moss, além dos efeitos no cérebro da criança, a palmada é contraproducente como ferramenta disciplinar. “A palmada é o uso da força para conter um determinado comportamento pelo medo. Muitas vezes a criança nem associa a violência sofrida ao que fez ‘de errado’. Acaba passando a mensagem de que a agressão é a maneira de resolver conflitos. É uma incoerência proibir o filho ou filha de bater nos colegas ou no irmãozinho quando os pais mesmo dão palmadas. Os adultos são os exemplos e devem mostrar como é possível resolver desavenças sem violência”, explica a neuropsicóloga.
Como acabaram de ler, os efeitos da PALMADA, pode ser mais grave do que parece.
Optem, pelo diálogo. Se estão cansados e sem paciência, basta dizer: AGORA NÃO, falamos mais tarde.
As crianças precisam perceber que os adultos, também se cansam.
Sejam felizes.