Tinha cerca de quinze anos quando escrevi esta frase de Gibran Kahlil Gibran, um célebre escritor libanês. Utilizei-a numa carta que escrevi à minha mãe por ela estar zangada comigo. Para lhe explicar o que pensava e sentia, recorria muitas vezes à escrita. Adorava escrever-lhe cartas. Cartas que na altura nem sempre lhe pareciam bem, mas hoje faz questão de reler.
Pelo que recordo, já na adolescência mostrava a minha diferença de pensamentos e necessidade de liberdade. Nunca fui daquelas adolescentes que ficavam à espera de que os pais fizessem tudo e autorizassem tudo. Sempre tomei rédeas da minha própria vida, até porque um dia iria sair de casa e teria que me saber orientar e tomar decisões sozinha.
Ficava chateada quando queria fazer algo por mim e ouvia o meu pai a dizer que não deixava. O que mais me irritava era quando ouvia, “isso não é para raparigas”. Desejei muitas vezes ter nascido rapaz.
Amava escrever e discutir assuntos que ninguém discutia. Sempre quis saber o porquê das coisas. Mas a verdade, é que nem sempre obtive uma resposta.
Como adolescente sempre tive ambição de conquistar o mundo e fazer dele um lugar melhor. Mas para isso, tinha que deixar o porto de abrigo e procurar a vida.
Quando escrevi esta frase “Os vossos filhos não são vossos filhos…”, foi com intenção de fazer a minha mãe entender que eu tinha nascido dela, mas não era dela. Era de uma vida que tinha pela frente. Ela trouxe-me ao mundo, mas tinha que me preparar para esse mundo.
Hoje, sou mãe e partilho do mesmo pensamento. O meu filho é o meu bem mais precioso, no entanto, tenho obrigação de lhe ensinar a voar e preparar para o dia em que eu não esteja mais.
Parece estranho alguém que está vivo, estar a pensar que um dia vai partir.
Pois é, mas esta é a única certeza que temos na vida. Ninguém sabe quando nem como. Se soubéssemos certamente, não iríamos desfrutar da vida da forma que desfrutamos, porque estaríamos preocupados com esse dia.
Sou uma pessoa muito prática, direta e chamo as coisas pelos nomes. Se querem criar filhos felizes e independentes não lhes cortem a liberdade. Deixem que sejam eles mesmos a descobrir determinadas coisas. A nossa função não é proibir, a nossa função é alertar para os possíveis perigos.
No meu entender, isto aplica-se a todas as idades sem exceção. Até porque se repararem, as crianças por norma, gostam de experimentar. Nós, podemos alertar cinquenta vezes para uma situação, mas se ela achar que vai fazer, ela faz.
E se correr mal? Se correr mal explicamos novamente o porquê de não ser boa ideia ir por ali. Eles com o tempo, vão perceber que a nossa opinião tem razão de ser, e vão passar a ter mais cuidado.
Sabemos que as crianças são todas diferentes. Umas obedecem sem problema, outras obedecem, mas questionam várias vezes, outras reclamam, mas obedecem e outras pouco obedecem, e ainda fazem birra por serem contrariados.
Toca-nos a nós adultos moldar estes feitios. Desde o mais calmo ao mais agitado.
Sobre os mais teimosos posso enumerar vários exemplos: trabalhos de casa.
Normalmente, os pais inquietam-se com os famosos TPC. Eu, desde o primeiro ano de escolaridade do meu filho que o habituei a trabalhar sozinho e apenas pedir ajuda se fosse necessário. Tinha dias em que ele chamava dez vezes, mas sempre mantive a minha postura. Termina e depois eu vou verificar e ajudar no que for preciso.
Hoje tem dez anos e é super independente nos trabalhos da escola.
Muitos dizem que tenho sorte porque ele é inteligente. Respondo: não é sorte, é ensinamento desde pequeno.
Atualmente, verifico que os pais tem receio de incutir responsabilidade nos seus filhos. Faz parte da vida ser responsável, e se não for ensinado desde pequeno, de adulto será muito mais difícil.
Algumas pessoas comentam. O meu filho só tem oito anos não vai fazer tarefas domésticas nem ajudar. Respondo: pois não. Vai ter dezoito e também não vai fazer nada porque não foi ensinado. Depois vai levar a mãe atrás de si para namorar.
Ensinem os vossos filhos a ser independentes. Deixem-nos colaborar nas tarefas. Estarão a criar crianças felizes e homens/mulheres responsáveis.