Família

O meu filho vai para o ensino superior. E agora?

É verdade. Para muitos pais este é um verão preocupante e carregado de alterações emocionais. Os pensamentos não param de “correr” sobre as mudanças que vão acontecer no mês de setembro. Por norma, deixam-se invadir de tanta preocupação que mal disfrutam do verão com os filhos.

Sei que é fácil falar principalmente, porque ainda não estou nesta fase, mas um dia quem sabe estarei e serão os outros pais a acalmar o meu coração de mãe.

A vida é mesmo assim: uns para os outros. Caso contrário, poucas coisas fariam grande sentido.

E porque os pais ficam tão preocupados com a ida do seu filho para o ensino superior?

Temos várias explicações para isso. Uns, porque protegeram o filho em excesso e receiam que o mesmo não se consiga orientar sozinho. Outros, porque já por lá passaram e recordam algumas das “loucuras” que cometeram. E infelizmente, alguns porque são tão inseguros que nem nos seus próprios filhos confiam.

De todas as situações a que mais me choca é a falta de confiança nos filhos. Choca-me, porque fui “vítima” desta situação. Cresci com um pai que não me deixava fazer nada e achava que controlava tudo, quando na realidade a minha salvadora sempre foi a minha mãe. Preparou-me muito bem para as adversidades da vida, mas não foi por isso que deixei de fazer as minhas “loucuras”.

Ensino superior é um mundo novo em todos os sentidos, principalmente naquilo que os adolescentes tanto anseiam: liberdade. A palavra chave desta fase é o diálogo. Se criamos uma relação com o nosso filho de diálogo, não temos que temer a sua saída da nossa zona de conforto.

É verdade, a zona de conforto é nossa, porque eles adoram sair dela e ir à procura do desconhecido. Eu, pelo menos sempre adorei e nunca tive grandes problemas. Mesmo com a falta de confiança por parte do meu pai, avancei e consegui aquilo que sempre mais quis, liberdade. Queria liberdade pessoal e financeira, por isso sempre fui aplicada para terminar a minha formação superior o mais breve possível.

Hoje, olho para trás e vejo que não vivi a 100% a vida académica, mas não me arrependo. Vivi como sabia e podia. Tinha dentro de mim um grande sentido de responsabilidade e do custo da vida. Sabia que chumbar não estava nos meus planos, portanto era para aproveitar com a devida ponderação.

Hoje em dia os adolescentes são assim?

Alguns sim outros não. Tudo está relacionado com a forma como foram criados e as vivências que tiveram. Se é um adolescente que sempre teve tudo facilitado sem grande sacrifício lamento, mas não vai saber orientar a sua vida como outro que sempre viveu com limite e ponderação.

No meu tempo de estudante já assim era e assim será. O nosso filho tem que ser consciente dos sacríficos que fazemos para que nada lhe falte principalmente, na ida para o ensino superior. Não é qualquer um que tem essa oportunidade na vida. Tantos que gostariam de o fazer e não conseguem, porque financeiramente os pais não podem. Acontece mais do que nós imaginamos.

Já conheci alguns nesta situação e vi soluções completamente diferentes. Uns iniciaram a sua vida profissional numa área à escolha para ganhar a sua independência financeira; outros decidiram ir estudar e trabalhar ao mesmo tempo; outros decidiram trabalhar e voltar a estudar mais tarde quando já tivessem orçamento para isso. A vida é mesmo assim, feita de escolhas que trarão resultados.

E quando eles estão indecisos no que vão estudar?

É perfeitamente natural isto acontecer.

Eu, enquanto mãe se o meu filho estivesse indeciso dava-lhe a oportunidade de pensar melhor e depois decidir. Preferia que ficasse mais um ano em casa, fizesse melhoria de notas e quem sabe até arranja-se um trabalho para ganhar algum dinheiro para si. O facto de muitos irem para o ensino superior sem saber o melhor caminho, pode trazer muitos outros problemas. Más escolhas em termos de vida que darão muito mais gasto que um ano de espera pela sua escolha. Com 18 anos não é fácil decidir a profissão que se vai ter uma vida inteira. Quantos não terminam o curso e depois na prática laboral percebem que não se identificam com aquilo.

E qual é o mal?

Estamos sempre a tempo de fazer novas escolhas. A vida é mesmo um mundo de constantes descobertas. Aprendermos a ser mais felizes e melhores é a maior liberdade que o ser humano pode ter.

Escute o seu filho, pense com ele qual o melhor caminho. Os pais melhor que ninguém sabem o que tem em casa, mas nunca deixem de os ouvir.

Tânia Abreu – Professora, Coaching Educativo e Parental