E as crianças como ficam no meio deste assunto que nos angustia todos os dias?
Poucos se lembram que a pandemia Covid 19 afetou em grande dimensão as crianças e as suas potencialidades.
Todos falam da doença, da família, dos profissionais, mas poucos se lembram que existem seres indefesos que não sabem lidar com toda esta situação. Choca-me quando ouço pais, auxiliares, professores, terapeutas… tecer comentários como: “Estas crianças não param sossegadas!” Depois pergunto-me: Como podem as crianças estarem sossegadas no meio de tanta desorientação? Andaremos tão distraídos que não vemos as suas alterações comportamentais?
De um dia para o outro todos nós tivemos de reformular a nossa forma de viver. Os adultos supostamente estão em vantagem porque tem uma maior capacidade de percepção do que se passa à sua volta. Ou pelo menos, deveriam ter.
As crianças viram-se inibidas de poder brincar como brincavam, poder abraçar como abraçavam, poder respirar como respiravam… toda a sua parte emocional foi afetada e muitos acham que os comportamentos devem ser semelhantes aos antes covid.
É contranatura pedir a uma criança que não toque nos seus colegas quando brinca, que não empreste brinquedos, que não dê abraços ou beijinhos aos seus entes queridos e amigos, que use uma máscara super asfixiante porque anda aí um vírus, quando eles nem sabem bem o que isso é! Muitos chegam a dizer que é o diabo.
Quando escuto estes comentários respiro, coloco as mãos na cabeça e pergunto-me: Como estão a ser ensinadas estas crianças! Depois, sento-me e tento explicar de uma forma simples o que é o Covid 19 com intenção de acalmar estas cabecinhas e estes corações frágeis.
Para quem lida com crianças e está atenta aos sinais percebe em cada palavra e cada olhar que elas andam completamente desorientadas e saturadas de tanta falta de tudo.
Ser criança é ser livre, correr, saltar, abraçar, gritar, brincar…
Esta é uma ótima altura para as famílias refletirem sobre a sua gestão familiar e parar para pensar no tempo que na realidade devem dedicar aos seus. É altura de reclamar menos e aproveitar mais, é altura de valorizar o tempo que a vida nos está a oferecer para nós mesmos e para os nossos.