O Mundo Das Crianças

Avaliações

Para muitas crianças acabaram de sair as primeiras avaliações escolares.

Acham que este um fator que as entristeça?

Há vários motivos que possam levar à tristeza ou não das nossas crianças, mas o que supostamente deveria acontecer, era ser mais um momento de reflexão em família e tentativa de perceber o que possa estar a causar as chamadas notas menos desejadas pelos pais.

Logicamente, estamos a falar de crianças de tenra idade, onde o pretendido é que sejam felizes e não que vivam ansiosas por uma classificação escolar. Até, porque as crianças não são classificáveis em números, tal como os adultos não deveriam ser. Crianças são seres humanos em crescimento e a aceitação ou não das suas avaliações, está sempre dependente do que lhes é incutido pelos adultos.

É perfeitamente, compreensível que os pais incutam regras, espírito de sacrifício, responsabilidade… mas não é suposto incutirem ansiedade e medo! As crianças não são comparáveis, tal e qual como os adultos.

Cada criança é uma criança com grandes qualidades e capacidades e isso sim, torna-as especiais.

Já algum dia questionaram uma criança sobre a sua dificuldade em atingir determinada nota?

Pois, é. Todas elas são maravilhosas e por isso mesmo, todas tem capacidades diferentes. Umas são melhores na área dos números, outras na área das línguas, outras na área das artes, outras na área dos desportos individuais, outras desportos coletivos… claro que, temos exceções, onde conseguem ter melhores resultados em quase tudo, mas certamente são crianças com maior capacidade a nível cognitivo, algo que nasce com elas, ou foi fruto de muita estimulação nos primeiros anos de vida.

Mesmo a questão da estimulação é muito relativa. Existem crianças que são muito estimuladas, mas tem mais dificuldade em chegar lá, o que é perfeitamente natural. O que se torna fora da norma é termos adultos que não compreendem, e além de não compreenderem massacram as crianças de tal forma que as “obrigam” a sentir ansiedade, medo, a chorar, mentir ou omitir, apenas porque tem medo das consequências de não terem conseguido mais.

Elas não são obrigadas a mais do que podem. Tentar incutir esta “obrigação” nas crianças, é a mesma coisa que pedir a um padeiro que faça o trabalho de um médico. Cada um nasceu para o que nasceu, e forçar o oposto é pura ilusão na cabeça dos adultos.

Todos nós queremos o melhor para as nossas crianças. Mas querer que sejam as melhores, pode trazer consequências graves no futuro.

As crianças são tão inteligentes que se esforçam muito mais no que elas gostam, sem termos que dizer nada.

Recordo-me quando tinha 17 anos. Estava a frequentar o 12º ano e sempre fui apaixonada pela área militar ou área de desporto. A minha mãe sonhava que eu fosse enfermeira, porque ela mesma não teve essa oportunidade. O meu pai, área militar, nem pensar, era coisa de homens. Restou-me a área de desporto e foi para onde me dirige, mas nesta decisão preguei umas rasteiras à minha mãe. É verdade, MENTI. Fiz toda a preparação para a enfermagem e na altura para entrega dos pré-requisitos disse que me tinha esquecido.

Porque menti?

Menti, porque este era um sonho da minha mãe e não meu. Sabia que mentir não era o caminho certo, inclusive era algo que não gostava de fazer, mas ela “obrigou-me” a isso.

Já imaginaram o que seria estudar algo que não nos faz feliz! Para mim seria horrível.

Crianças até ao 9º ano de escolaridade tem que estudar como é lógico, mas não tem que viver agoniados com notas. OK, esta nota não foi tão boa, vamos analisar o que falhou e esforçar-nos, adultos e crianças para que melhore. As soluções tem que ser encontradas em conjunto, e não atribuir apenas a responsabilidade à criança, à família ou à escola. Não tem que haver um culpado, até porque a aprendizagem das crianças é influenciada por vários fatores: família, professores, colegas de turma, segurança ou insegurança da própria criança, capacidade de concentração, capacidade de questionar, capacidade de intervir, a ideia que a criança tem de si mesma, mas sem dúvida o que mais influencia são os adultos que andam à sua volta e o que lhe transmitem, quer sejam pais, familiares ou professores. Eu, enquanto professora tenho uma variedade imensa de alunos. Todos eles são diferentes e fico muito feliz por isso. É a diferença entre eles que me faz evoluir, enquanto profissional e ser humano.

Não me interessa ter apenas alunos cheios de capacidades. Esses praticamente, aprendem sozinhos e são muito úteis para colaborar. Aliás, aproveito as suas capacidades para “ajudar” as crianças com mais dificuldades, e eles adoram, porque se sentem úteis.  E os outros ficam felizes, porque são ajudados por colegas. Este trabalho de interajuda é maravilhoso de se ver, e as crianças quando ensinadas são muito boas nele. São muito mais “dadas” do que os adultos. Ajudam com muito mais facilidade, muito mais amor e carinho.

Então, porque existem crianças que se julgam melhores pelos resultados escolares?

Porque são ensinadas pelos adultos. Ninguém nasce ensinado com espírito competitivo. Este é adquirido com o crescimento e com as referências que se tem ao seu redor.   

Há adultos que incutem tanta pressão nas crianças por causa dos resultados escolares, que as crianças chegam a vomitar com tanta ansiedade, choram, não querem ir à escola, tem medo de apresentar trabalhos, não dormem ou tem pesadelos, tem dores de barriga…

É preciso ter calma. É preciso analisar com calma cada situação. Cada criança é uma criança. O que resulta com uma pode não resultar com outra.

Estejam atentos às capacidades delas e aos sinais que nos dão.

Criança é sinónimo de alegria e boa disposição. Quando isto não acontece, algo não está a ser bem gerido.

Tentem passar tranquilidade aos pequenos e serão todos mais felizes.

Nem 8 nem 80